CONECTANDO O UNIVERSO DAS ANÁLISES CLÍNICAS E INSTRUMENTAÇÃO ANALÍTICA

A relação entre Herpes e Câncer de Tireoide

herpesvirus_freedigital
As descobertas da pesquisa abrem um novo horizonte a respeito de infecções virais e câncer de tireoide.
(Foto: freedigitalphoto)

Uma pesquisa liderada pela equipe da Professora Dra. Laura Sterian Ward, endocrinologista coordenadora do Laboratório de Genética Molecular do Câncer (Gemoca) da Unicamp, visa descobrir quais mecanismos moleculares levam à infecção das células tireoideanas. Os estudos se concentram nos testes moleculares e genéticos feitos na Universidade Estadual de Campinas, SP.

“Sabe-se que existe uma relação entre herpes vírus e câncer de tireoide, uma vez que os Herpes vírus tipo 1 (HSV-1), tipo 2 (HSV-2) e, mais recentemente, descoberto por nosso grupo, o Herpes vírus tipo 4 (EBV), conhecido como Epstein-Barr Virus, foram encontrados em tecidos tumorais malignos da tireoide”, declara a biomédica Dra. Jacqueline Almeida Moraes, coordenadora do andamento dos trabalhos.

No entanto, novas pesquisas moleculares estão sendo feitas para descobrir o verdadeiro papel desses vírus na tireoide. O objetivo dos pesquisadores é descobrir quais mecanismos moleculares levaram esses vírus a infectar as células tireoidianas e, mais especificamente, as células malignas da tireoide.

Até o momento sabe-se que esta associação é maior em mulheres, de etnia branca, com idade média de 37 anos. A carga viral do Epstein-Barr é maior nos indivíduos com nódulos tireoidianos malignos do que nos benignos, sugerindo que há uma relação deste vírus com o câncer de tireoide. “No entanto são necessárias maiores comprovações moleculares que nos mostrem de que maneira isso pode afetar o desenvolvimento dos nódulos ou até mesmo no prognóstico desses pacientes”, alerta Dra. Jacqueline.

Não há meios eficazes de prevenção a estes vírus, com exceção do HSV-2 que é um vírus sexualmente transmissível e passível de ser prevenido, possuindo uma baixa soroprevalência na população, com cerca de 11%. Já em relação ao EBV, cerca de 95% da população é soropositiva para a sua infecção, sendo o maior contágio na infância.

Para saber mais sobre a pesquisa e seus desdobramentos, LabNetwork entrevistou a Dra. Jacqueline Almeida Moraes. Confira:

 LabNetwork – Em linhas gerais, como surgiu a ideia desta pesquisa?
Dra. Jacqueline Almeida Moraes – Nosso grupo já havia estudado a relação do HHV-6 e HHV-7 em pacientes com Doença de Graves e concluímos que a infecção por HHV-7 predispõe o indivíduo a desenvolver a doença autoimune. Já existem também relatos na literatura de outros vírus como o HSV-2, EBV e CMV em outras doenças autoimunes tireoidianas como a Tireoidite de Hashimoto. Em relação aos pacientes com câncer de tireoide, o único trabalho realizado até o momento foi publicado em 2010 por um grupo de pesquisadores dos EUA, que estudou a presença dos herpes simplex tipo 1 (HSV-1) e 2 (HSV-2) em amostras de tecidos malignos e benignos de tireoide. Com base na relação dos herpes vírus com doenças tireoidianas autoimunes, escolhemos estudar o HSV-2, EBV, CMV e HHV-8 em amostras de tecido tireoidianos malignos, benignos e normais e por se tratarem também de herpes vírus já relacionados com outros tipos de neoplasias humanas.

LabNetwork – Qual foi o formato da pesquisa?
Dra. Jacqueline Almeida Moraes – Foram coletadas amostras de tecido tumoral tireoidiano e soro de 153 indivíduos (136 mulheres e 17 homens, 46±15 anos) operados por nódulos de tireoide incluindo 65 tumores benignos e 79 tumores malignos. Também obtivemos 75 tecidos tireoidianos normais extraídos do lobo contralateral da lesão em 75 tumores. Foi realizada análise sorológica por ELISA para detecção de anticorpos dos herpes vírus e foi realizada análise da Carga Viral por PCR em Tempo Real.

LabNetwork – Quais foram os testes e a tecnologia usados na pesquisa?
Dra. Jacqueline Almeida Moraes – A análise sorológica realizada foi o teste de ELISA indireto com kits comerciais validados para diagnóstico dos herpes vírus. Já a PCR em Tempo Real para Carga Viral, trata-se de uma análise de quantificação absoluta, onde nós conseguimos padronizar a técnica através de um controle positivo comercial (não foi necessário preparar todos os reagentes in house), contendo uma concentração viral conhecida para construção da curva padrão. Com essa técnica foi possível além de confirmar a presença do DNA do vírus na amostra dos tecidos, também saber qual é o grau de infecção, ou seja, o software com base na curva padrão (construída pela diluição seriada do controle positivo) nos dá a quantidade de cópias virais/µl de amostra.

LabNetwork – Quando e como o grupo descobriu o Herpes vírus tipo 4 (EBV)?
Dra. Jacqueline Almeida Moraes – O projeto vem sendo conduzido desde o início do ano passado. Ao analisarmos as amostras PCR em Tempo Real para Carga Viral dos herpes vírus HSV-2, EBV, CMV e HHV-8, descobrimos que o único herpes que infectou o tecido tireoidiano foi o EBV, nenhum outro foi positivo. Este é o primeiro trabalho que mostrou a relação do EBV com câncer de tireoide até a presente data.

LabNetwork – Qual a importância das descobertas feitas e quais desdobramentos se esperam daqui para frente?
Dra. Jacqueline Almeida Moraes – Essa descoberta abre um novo horizonte de pesquisas a respeito de infecções virais e câncer de tireoide. Para melhor compreensão dos mecanismos envolvidos e para saber se realmente o EBV influencia no desenvolvimento de nódulos tireoidianos ou até mesmo do câncer de tireoide são necessários mais testes moleculares, com estudos das proteínas e RNAs virais nos tecidos tireoidianos.

POSTS RELACIONADOS

APOIADORES PREMIUM

APOIADORES GOLD

MAIS LIDAS