Mesmo que o estudo ainda esteja em fase inicial, a comunidade científica enxerga a novidade com bons olhos, especialmente pela possibilidade de detecção precoce
Por Milena Tutumi
O diagnóstico do câncer de ovário é um dos mais complexos e envolve exames de imagem e de sangue, biópsia e laparoscopia, podendo ser um processo longo para a paciente descobrir a doença. Isso faz com que em 60% dos casos só seja detectado em estágio avançado. Recentemente, um grupo de cientistas japoneses, valendo-se da técnica da cromatografia líquida, detectou um potencial biomarcador para identificar tumores ovarianos malignos e melhorar o seu diagnóstico, especialmente em estágios iniciais.
O estudo C‑Mannosyl tryptophan increases in the plasma of patients with ovarian cancer mostra a investigação da equipe de pesquisadores a partir das alterações de pacientes saudáveis e com câncer, nos níveis do triptofano C-manosil (CMW), um aminoácido glicosilado que pode ser usado como um biomarcador para disfunção renal.
A equipe descobriu que a CMW plasmática diferencia o câncer de ovário maligno dos tumores de ovário limítrofes ou benignos com alta precisão. Foram analisadas 49 amostras de plasma de pacientes com câncer de ovário e outras sete de indivíduos saudáveis a partir da cromatografia líquida. A técnica vem sendo muito utilizada para análises de amostras de aminoácidos e proteínas.
O estudo é visto com bons olhos pela comunidade científica para o futuro do diagnóstico de câncer de ovário, mesmo que ainda sejam necessárias algumas etapas para concluir a real capacidade do marcador em identificar o estágio da doença. Hoje, a detecção é feita pelos marcadores CA-125 e HE4 que, em caso de apresentarem alterações, devem ser rigorosamente avaliados junto com as situações clínica, molecular e laboratorial da paciente, para levantar a possibilidade eventual de um câncer, como coloca a patologista do Grupo Fleury, Monica Stiepcich.
Painéis genômicos
No Grupo Fleury, os estudos genômicos oferecidos a partir de 22 painéis específicos podem identificar nas pacientes a predisposição ao câncer de ovário. Em caso de positividade para algum deles, há a possibilidade da paciente poder optar pela cirurgia preventiva, como foi o caso da atriz Angelina Jolie.
A Dra. Monica explica que há muitas implicações no diagnóstico e na interpretação dos marcadores, e as variáveis devem considerar se é uma paciente sem sintomas e sem fator de risco conhecido ou paciente com fator de risco conhecido, como hereditariedade ou mutação no gene BRCA1 ou BRCA2. Em caso de rastreamento por hereditariedade, por exemplo, mesmo com um resultado negativo para os painéis oferecidos, a paciente deve continuar a fazer um acompanhamento adequado e periódico.
Para a patologista, não existe um rastreamento ideal para detectar câncer de ovário, e os marcadores ultrassensíveis, como esse descoberto pelo grupo de pesquisadores, podem ser promissores – o câncer de ovário tem alto índice de mortalidade por causa do diagnóstico tardio, de acordo com o INCA, em 2018 foram 6.150 novos casos registrados -, mas também podem gerar dúvidas, como no caso de não se saber com precisão em qual dos ovários a paciente possui o tumor, levando a questões diversas quanto à conduta médica e acurácia no prognóstico.
Artigo original:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6924205/
Referência: