Por Milena Tutumi
Um cenário alarmante tem sido apresentado aos laboratórios e às instituições de saúde como “sequela” da Covid-19. Em decorrência da não realização dos exames de rastreio ou acompanhamento durante a pandemia, a crescente detecção nos casos de doenças crônicas não transmissíveis tem sido exponencial. No Grupo Pardini, esse aumento tem alcançado 15%, especialmente nos diagnósticos de câncer.
Essa decisão de muitos pacientes durante a pandemia, especialmente entre aqueles dos grupos de risco, hipertensos, diabéticos ou até com patologias clínicas mais graves, como vários tipos de câncer, doenças autoimunes e doenças hematológicas, começou a gerar uma demanda represada nos diversos players de saúde cerca de seis meses após o início da quarentena. Laboratórios de diagnóstico, hospitais, clínicas de oncologia, clínicas de pacientes crônicos têm neste momento recebido pacientes com doenças descompensadas ou agravadas.
O vice-presidente do Grupo Pardini, Alessandro Ferreira, explica que são dois quadros distintos. O paciente com a doença descompensada é aquele que teve o aumento da pressão, da glicemia, mas ainda não houve comprometimento clínico ou até o agravamento do quadro. Já aquele com agravamento tem sido muito observado na oncologia. Refere-se, por exemplo, à paciente que sentiu um nódulo na mama e não procurou realizar os exames diagnósticos. Ou ao paciente que sentiu um incômodo prostático e deixou de consultar um urologista.
Esse público está chegando agora aos ambientes de saúde com quadros agravados e tumores estabelecidos, como um reflexo dos novos casos que deixaram de ser diagnosticados nos meses passados. Segundo Ferreira, houve uma queda maior a 25%. “Estamos sentindo isso nas empresas de medicina diagnóstica como um todo. As áreas de medicina personalizada voltada à oncologia e de anatomia patológica do Grupo Pardini têm sentido o impacto em nível nacional”, chama a atenção o executivo.
Com a positividade dos casos aumentando, os médicos dos pacientes relatam, no momento da interação com os resultados laboratoriais, que os pacientes já chegam com a doença em estágio avançado, o que poderia ter sido evitado se houvesse o acompanhamento ou o diagnóstico no início dos sintomas.
O sistema de saúde em geral deve sofrer as consequências dessa alta taxa de doenças crônicas não transmissíveis. “As pessoas retomando os seus procedimentos em saúde, fazendo preventivos não afetam a capacidade produtiva na medicina diagnóstica, acredito que isso representa um problema para a frente da cadeia, quando falamos de tratamento de casos graves, de cirurgias, de radio e quimioterapia”, comenta Ferreira ao Portal LabNetwork.
Mesmo que esses índices já estejam aparecendo nesse final de ano, o executivo acredita que ainda há muito o que se fazer, principalmente para o que se espera para 2021: “O Brasil precisa se preparar imediatamente para outras epidemias de doenças crônicas em decorrência dessa negligência que ocorreu durante a pandemia”. Isso envolve muitos tipos de câncer, diabetes, doença arterial coronariana, hipertensão crônica, entre outras enfermidades. “Essas doenças vão bater na porta das instituições de saúde de forma aguda agora. A bolha começou a estourar e já chegou aos laboratórios”.
Um estudo publicado em julho passado na publicação científica The Lancet mostra cenário similar ocorrido no Reino Unido. Acesse neste link.